A idade é, sem dúvida, o fator mais importante para nossa fertilidade, especialmente para as mulheres. A idade avançada é o calcanhar de Aquiles da medicina reprodutiva. Nada consegue reverter os efeitos da idade. Muitos casais têm infertilidade pelo simples fato de terem adiado o sonho da gravidez. Além disso, cerca de 20 a 30% das mulheres inférteis com menos de 35 anos tem diminuição da reserva ovariana (quantidade de óvulos).
O problema ocorre pois as mulheres já apresentam o número de óvulos definido, ainda, na vida embrionária, cerca de 6 milhões (ao contrário dos homens que produzem espermatozoides mensalmente, após a puberdade), a partir daí há uma perda progressiva de óvulos, por um processo chamado atresia (morte programada), assim ao nascer existem, somente, cerca de 1 a 2 milhões de óvulos e ao atingir a puberdade, a reserva ovular apresenta, apenas, algo em torno de 300 mil óvulos, além disso cerca de 500 óvulos serão selecionados para ovulação durante os anos de vida fértil. Uma queda muito acentuada. Por causa dessa provisão inicial fixa de células germinativas, as mulheres já começam a vida longe do seu potencial reprodutivo, tendo perdido 80% dos seus óvulos.
O pico da fertilidade ocorre aos 25 anos e a diminuição progressiva do número de óvulos se acentua muito após os 35 anos. Por isso é tão importante tentar engravidar antes dos 35 anos. A recomendação é que toda a prole já esteja definida antes desta idade.
A reserva ovariana demonstra o potencial reprodutivo, isto é, reflete a quantidade e, também, a qualidade dos óvulos remanescentes em uma determinada idade. Essa reserva precisa ser muito bem avaliada, pois a sua diminuição representa um grave problema, que muitas vezes, nem as técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro, conseguem resolver. Os exames que melhor avaliam essa reserva são o hormônio antimulleriano (AMH), uma glicoproteína produzida pelas células dos folículos imaturos (complexos que envolvem os óvulos) e a contagem desses folículos, chamados de antrais (CFA), realizada por meio de um ultrassom transvaginal, onde se contam os folículos entre 2 e 10 mm.
Existe uma evidente associação entre idade avançada e perda gestacional, mulheres mais velhas tem mais abortos que as mais jovens, indicando que reserva ovariana diminuída e perda gestacional, inclusive de repetição, têm uma forte ligação. Dados de uma pesquisa da Turquia, publicada em junho deste ano, na Fertility and Sterility, a revista da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, demonstraram que esta relação entre diminuição da reserva ovariana e perda gestacional ocorre, independente da idade, ou seja, mulheres mais jovens, com menos de 35 anos, mas que apresentam reserva ovariana reduzida têm maior incidência de perda gestacional, demonstrando que a idade cronológica pode não corresponder à idade biológica.
Além disso, parece haver uma forte associação entre reserva ovariana diminuída e infertilidade sem causa aparente, fazendo com que uma correta análise da reserva ovariana seja item obrigatório e fundamental na análise de um casal infértil.
Avaliar a reserva de óvulos é imprescindível para qualquer mulher em idade fértil que esteja tendo dificuldades em engravidar. A idade e os principais marcadores, o AMH e a CFA, devem, isoladamente ou em conjunto, ser valorizados e utilizados como ferramenta fundamental na análise da fertilidade. Isto é imperativo e nunca deve ser negligenciado.
Fontes: Artigos e reflexões publicados ao longo do ano de 2016, pela ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva).
Tratado de Ginecológia Endócrina e Infertilidade – Speroff at all
Texto escrito pelo Dr. Daniel Diógenes. Direto Técnico da Clínica Fertibaby Ceará. Especialista em Medicina Reprodutiva.