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A otimização do método de vitrificação (congelamento rápido), originalmente descrito por Rall e Fahy em 1985, trouxe uma revolução na área de criopreservação, estabelecendo com sucesso a vitrificação de óvulos como um procedimento de rotina em muitos laboratórios de fertilização in vitro. Antigamente, na década de 80 e 90, realizava-se o congelamento lento, onde o óvulo era congelado a baixas taxas de resfriamento em soluções com baixas concentrações de agentes crioprotetores.

Durante a vitrificação o óvulo é exposto a altas taxas de resfriamento em soluções com altas concentrações de agentes crioprotetores, o que evita que o óvulo congele e forme cristais de gelo (intrínseco ao congelamento lento) que destroem essa célula. A formação intracelular de cristais de gelo é um dos maiores fatores responsáveis por danos à membrana plasmática. Assim, na vitrificação, o óvulo não congela, ele vitrifica. Na vitrificação a velocidade de redução da temperatura, como dito, é brusca (aproximadamente -23000I0;C / min), que associada a altas concentrações de agentes crioprotetores, permite a passagem da água do estado líquido para um estado vítreo amorfo, sem a formação de cristais de gelo (Lunardi et al., 2015: tese de doutorado).

Esta proteção contra a formação de cristais de gelo, que ocorre na vitrificação, aumentou as taxas de sobrevivência de óvulos, como relatado em diversas publicações (Oktay et al., 2006; Cobo, Diaz, 2011). Assim, hoje, a vitrificação de óvulos é realizada rotineiramente e com sucesso em programas de doação de óvulos para fertilização in vitro.

Um estudo prospectivo realizado comparou taxas de gravidez em curso e outros índices de viabilidade entre óvulos vitrificados e óvulos frescos. Neste estudo, foi realizado um total de 99 doações, com mais de 16 óvulos maduros, ou seja, em metáfase II (MII), em que os óvulos foram alocados para uma destinatária síncrona (óvulos frescos) e a uma destinatária assíncrona (óvulos vitrificados).

No dia da punção dos folículos, os óvulos alocados para as receptoras síncronas foram micro-injetados com espermatozóides ainda frescos e os alocados para o banco de óvulos foram vitrificados.

Um total de 989 óvulos foi aquecido (desvitrificado) e 85,6% sobreviveram. Não houve diferenças significativas observadas entre a taxa de fertilização de óvulos frescos (80,7%) e a taxa de fertilização de óvulos vitrificados (78,2%), também não houve diferença entre a taxa de embriões em curso provenientes de óvulos frescos (71,0%) ou de óvulos vitrificados (68,2%) nem mesmo diferença entre a taxa de embriões de alta qualidade. Além disso, o número médio de embriões transferidos foi semelhante em ambos os grupos.

Dessa forma foram evidenciadas que as taxas de implantação (33,3% versus 34,0%) e as taxas de gravidez múltipla (27,7% contra 20,8%) também foram semelhantes entre os dois grupos. Além disso, a taxa de nascidos vivos por ciclo foi de 38,4% nas receptoras de óvulos frescos e de 43,4% nas receptoras de óvulos vitrificados, também sem diferença estatística.

Por fim, foram avaliadas oitenta e cinco transferências de embriões congelados nos dois grupos. Comparando embriões a partir de óvulos frescos e vitrificados não houve diferenças significativas na taxa de sobrevivência embrionária (70,1% contra 65,8%), na taxa de gravidez clínica (40,8% contra 33,3%) nem na taxa de implantação (21,8% contra 26,8%).

Após estes resultados foi possível concluir que a utilização de óvulos previamente vitrificados é tão favorável quanto à utilização de óvulos frescos. Esses resultados estimulam o uso da vitrificação de óvulos, para outras aplicações, como, por exemplo, para a preservação de fertilidade de pacientes que desejam ou precisam adiar a maternidade. Com a vitrificação dos óvulos a mulher pode atingir a maturidade sem preocupar-se com a diminuição significativa da capacidade para conceber no futuro, pois contará com amostras de óvulos preservadas que não envelhecerão. Essa prática deve ser estimulada e será no futuro a solução para muitos dos problema que, hoje, enfrentamos na medicina reprodutiva.

Texto escrito por Franciele Osmarini Lunardi, Bióloga, Doutora em Reprodução e Embriologista da Clínica Fertibaby Ceará. Baseado em uma pesquisa realizada pelo Serviço de Medicina Reprodutiva do departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Reprodução de Barcelona, Espanha.  Publicada na Human Reproduction, Vol.28, No.8 pp. 2087–2092, no ano de 2013.

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