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Priscilla e Letícia, 30 anos, de Minas Gerais, acabaram de se tornar mães de gêmeas. O casal, que compartilhou a chegada das filhas nas redes sociais, diz que sempre ouve relatos de outras mulheres que têm medo de constituir família homoafetiva pela possível discriminação: “Respeitamos o próximo e exigimos respeito”. Confira a entrevista exclusiva à CRESCER

  • SABRINA ONGARATTO / Revista Crescer

As mineiras Priscilla e Letícia, que moram em Belo Horizonte, se conheceram através de amigos em comum, ainda na época da faculdade. “Desde então, sempre nos falamos e nos tornamos amigas até eu me declarar para a Priscilla e mostrar que o que eu sentia era ainda maior”, lembra Letícia Soares, 30, que é zootecnista. Hoje, o amor entre as duas “transbordou” e elas formaram uma linda família com a chegada das gêmeas Lavínia e Maria Tereza, que têm apenas 1 mês de vida.

Mas o caminho até aqui não foi fácil. “Atualmente é tranquilo, todos ao nosso redor nos respeitam, mas tivemos alguns percalços, como a aceitação no tempo de cada um. Mesmo assim, nunca deixamos que isso afetasse nosso relacionamento”, garantiram.

Sobre as filhas, Priscilla Camargo, 30 anos, que é engenheira civil e professora universitária, revelou que a vontade de ter filhos sempre existiu entre as duas. “Desde que começamos, a gente conversava sobre filhos, pois era um desejo grande da Letícia, que acabou se tornando meu também. E a decisão de quem iria gerar foi fácil, pois a todo momento a Letícia quis e não era um desejo meu”, conta.

Priscilla e Letícia com as gêmeas Lavínia e Maria Tereza (Foto: Arquivo pessoal)
Priscilla e Letícia com as gêmeas Lavínia e Maria Tereza (Foto: Arquivo pessoal)

Positivo “em dose dupla”

As duas, então, recorreram à fertilização in vitro (FIV) e logo receberam o “positivo”. “Eu tive um sangramento com seis semanas de gestação quando ainda não tínhamos feito o primeiro ultrassom. Foi muito difícil, pois achamos que tínhamos perdido o bebê”, lembra Letícia. “Mas ao chegar na clínica para uma consulta de emergência, fizemos o ultrassom e vimos dois sacos embrionários, o que indicava que poderiam ser dois bebês. Porém, somente um coração estava batendo. Por ser recente o sangramento, poderia ser de um possível aborto ou um coágulo, que a médica visualizou”, conta. Foi uma semana de muita apreensão e ansiedade até que elas voltaram na clínica para um novo exame. “Foi, então, que vimos os dois coraçõezinhos batendo. Ninguém conteve a emoção e a felicidade por termos duas vidas para cuidar com muito amor”, derrete-se a mãe.

“A gestação foi maravilhosa, sem nenhum problema. As meninas sempre saudáveis. Trabalhei em casa após uma lei ser sancionada, obrigando o afastamento de gestantes em decorrência da pandemia de coronavírus. Nos protegemos e ficamos ainda mais próximas nessa fase”, completou ela.

Letícia gerou as gêmeas (Foto: Arquivo pessoal)
Letícia gerou as gêmeas (Foto: Arquivo pessoal)

Susto no parto

No dia 31 de outubro, Letícia entrou em trabalho de parto e chegou ao hospital com 4 centímetros de dilatação. Elas optaram pela cesárea, pois uma das meninas estava na posição pélvica. Mas isso não impediu que o parto fosse humanizado. “Preparamos uma playlist, assistimos ao parto, a equipe sempre com muito carinho e atenção com nossa família. Nossa obstetra deu um suporte incrível, conversando a todo momento e com muito respeito. Pegamos as meninas no colo juntas após o parto, tiramos fotos, filmamos tudo”, lembra Letícia.

As mães com suas gêmeas após o parto (Foto: Arquivo pessoal)
As mães com suas gêmeas após o parto (Foto: Arquivo pessoal)

No entanto, logo após o nascimento, Letícia passou por uma complicação. “Depois da sutura, tive eclâmpsia seguida de convulsão e síndrome de Hellp, o que me levou a um quadro clínico preocupante. Fui transferida para a UTI de outro hospital com urgência. Priscilla ficou na maternidade com as meninas e logo tiveram alta, pois estavam saudáveis. Já eu fiquei cinco dias distante delas até que pudemos nos encontrar novamente. Tive alta um dia depois de ver as meninas e agora seguimos em casa, com muita alegria, mesmo depois de dias tão difíceis”, conta.

O pós-parto

Os primeiros dias em casa foram de muita paciência e aprendizado. “A amamentação foi um desafio grande e, diante de tantos percalços, parei de amamentar. Tive febre, que nos levaram a dúvidas sobre o quadro clínico, e chegamos a fazer vários exames para investigar. Também tive baby blues, que mexeu com meu psicológico e emocional. Tentei amamentar com ajuda de profissionais e todo amor da minha rede de apoio. A Priscilla foi a principal motivadora para as minhas escolhas. Ainda na maternidade, com as gêmeas, ela e minha mãe davam leite no copinho para não haver confusão de bicos (peito e mamadeira). Depois, tentamos a relactação, mas a decisão de parar veio com a interferência das meninas. Foi muito difícil, mas foi necessário, e hoje me sinto bem e confortável com a decisão. É sábio saber a hora de parar de tentar”, ponderou Letícia.

Quanto aos cuidados, as duas garantem que são sempre “muito parceiras”. “É uma tarefa mútua. Nos dividimos em dias mais difíceis para uma ou outra. As privações de sono têm sido um dos maiores desafios, a adaptação é complicada, mas vamos nos acertando com  a rotina”, disse.

Lavínia e Maria Tereza (Foto: Arquivo pessoal)
Lavínia e Maria Tereza (Foto: Arquivo pessoal)

Diversidade e respeito

Priscilla e Letícia compartilham a rotina da chegada das gêmeas desde a gravidez, através do perfil @mamaesdegemeas, no Instagram, onde já tem mais de 11 mil seguidores. Elas dizem não ter recebido comentários preconceituosos, mas caso haja, garantem: “Procuraremos medidas cabíveis perante a lei”. “Respeitamos o próximo e exigimos respeito conosco e com a nossa família. Na nossa rede social, pregamos e compartilhamos o amor e o respeito, sempre”, disseram.

Por outro lado, elas sentem que são exemplos para outras famílias. “Sempre ouvimos relatos ou dúvidas de outras famílias ou até mesmo de mulheres que nos veem como exemplo e têm medo de constituir família homoafetiva pela possível discriminação dentro de casa, do trabalho ou do meio em que convivem. Nossa história, muitas vezes, encoraja outras pessoas. Temos orgulho da nossa família e vamos sempre acolher outras famílias e compartilhar histórias de superação, vitórias ou até mesmo dificuldades”, afirmaram.

Sobre a educação das filhas, elas revelam que o pilar será sempre o “respeito”. “Sempre vamos ensinar a respeitar o próximo, independente das escolhas e diferenças. Precisamos ensiná-las a viver a sororidade, a se colocarem no lugar do próximo; isso faz parte da educação que tivemos. Desejamos que elas sejam seres humanos capazes de compartilhar o amor ao próximo, assim como nossa ideologia religiosa”, afirmaram as mães.

Sobre a possibilidade de ter mais filhos, elas responderam com bom humor. “Pretendíamos ter, mas depois das intercorrências do parto e de termos sido presenteadas com gêmeas, tudo muda né? (risos) Mas ainda é cedo para tomar tamanha decisão. Quem sabe…”, finalizaram.

Priscilla e Letícia: diversidade, amor e respeito (Foto: Arquivo pessoal)
Priscilla e Letícia: diversidade, amor e respeito (Foto: Arquivo pessoal)
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